quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Corrupção e Zoantropia

Rei Nabucodonosor em comportamento animalesco
Corrupção e Zoantropia


     Nosso país passa por momentos difíceis na política, na economia e no reflexo social que toda essa convulsão provoca. Esses reflexos aparecem tanto na mídia televisiva quanto na mídia das redes sociais da internet. Nelas percebemos indignação, revolta e ”caça às bruxas” de forma implacável.


   No meio Espírita também encontramos essa postura mental. A isso devamos considerar o risco do desequilíbrio espiritual, da desarmonia mental e das frestas que abrimos à influência espiritual perniciosa, ao adotarmos a indignação, a intolerância e o desejo de vingança disfarçado pelos brados por justiça a qualquer preço. 

              No entanto, nesse mesmo meio encontramos orientações espirituais de como nos comportar mental e socialmente para que nossa ação tenha uma contribuição efetiva para transformar esse cenário de desvios que ora se instalou em nosso país, nossa pátria, nossa nação.

            O Espírito Emmanuel nos orienta em belíssimas mensagens do livro Fonte Viva, trazido até nós pela doce mediunidade de Chico Xavier, que a indignação rara, quando justa e construtiva no interesse geral, é sempre um bem, quando sabemos orientá-la em serviços de elevação(1), mas a indignação excessiva, perante a fraqueza, extermina os germes frágeis da virtude(2).

             O Espírito Joanna de Ângelis nos ensina em sua série psicológica, delineada pela psiqué equilibrada de Divaldo P. Franco, que Jesus, que sabia examinar sem julgar, muito menos punir, como consequência viveu sempre muito feliz(3), uma vez que conhecia fundamentalmente os teoremas do conjunto de leis divinas que a tudo rege, com suas causas e respectivas consequências.

         O Espírito André Luiz, em preciosas páginas com indicações cristãs, afirma que da conduta dos indivíduos depende o destino das organizações(4), por isso nos convida fraternalmente à atitude adequada ao campo espírita e nos exorta que nos embates políticos não devemos por nenhum pretexto, condenar aqueles que se acham investidos com responsabilidades administrativas de interesse público, mas sim orar em favor deles(...) e completa: Para que o bem se faça, é preciso que o auxílio da prece se contraponha ao látego da crítica(5).

          O Espírito Bezerra de Menezes, através da mediunidade inquestionável de Divaldo P. Franco, nos orienta que a melhor ferramenta para nos fortalecer no combate à crise que ora se instala no Brasil é a vigilância e a prece. Isso mesmo. A prece fervorosa, silenciosa, cheia de compaixão pelos que caem, carregada de pedidos de inspiração e intervenção sobre aqueles que estão no poder, rogos de inspiração para aqueles que vão tomar decisões ou julgar na lei dos homens, etc...

             Embora devamos, nós outros, tomar a postura da prece, sabemos que a Lei Divina por si só já é justa e imparcial por natureza e como efeito desta Lei Natural, vemos nas obras literárias com base na espiritualidade, como Diálogo com as sombras(6), e em obras mediúnicas como Libertação pelo Espírito André Luiz(7), e no relato do Espírito Zílio, em missão pessoal numa região de trevas chamada vale dos prazeres, do livro Um roqueiro no além(8), que alguns políticos corruptos e indivíduos pervertidos, ao retornarem para a Pátria Espiritual, sofrem esse efeito pela própria consciência ampliada certo tempo após o desencarne, mergulhando nos tormentos de culpas e remorsos, quando assumem formas peri-espirituais animalescas, também conhecidas como zoantropia, associando simbioticamente o próprio delito à aparência e ao comportamento animal equivalente. O julgamento vem, cedo ou tarde, pela própria consciência. No entanto, encontramos no plano espiritual verdadeiros tribunais, presididos por justiceiros, com juízes e decretos de penas impostas aos delinquentes. Contudo, isso só acontece nas regiões inferiores. Jamais encontraremos juízes e tribunais nas esferas superiores.

           Assim, associando-nos em oração ao Espírito Benfeitor Ismael, que vela e zela pela nossa pátria amada, temos na Doutrina Espírita, que nos traz o Cristianismo essencial de volta aos dias atuais, adotando o papel iluminador de consciências e libertador de almas, temos, repito, os instrumentos para nos auxiliar na adoção da postura adequada e do sentimento construtivo e agregador, com os quais iremos desenvolver a ação efetiva, a paciência confiante e a resignação esperançosa, concomitante com a propagação orientativa e esclarecedora do evangelho e com o exemplo da prática que arrebanha multidões, como fazia o modelo maior e melhor que foi o Cristo Jesus.

          Mesmo sem abrir mão da nossa cidadania, deixemos aos mortos o trabalho de cuidar dos mortos. Agindo assim, apesar da crise, seremos felizes.

(Jaime Albuquerque – Dirigente e Orador Espírita)



Referências das citações:

1. Fonte Viva, lição 86 – Estás doente?, pelo Espírito Emmanuel, psicografia de Chico Xavier
2. Fonte Viva, lição 98 – Couraça da caridade, pelo Espírito Emmanuel, psicografia de Chico Xavier
3. Jesus e o Evangelho à luz da psicologia profunda, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo P. Franco
4. Conduta Espírita, Mensagem ao leitor, pelo Espírito André Luiz, psicografia de Waldo Vieira
5. Conduta Espírita, lição 10 – Nos embates políticos, pelo Espírito André Luiz, psicografia de Waldo Vieira
6. Diálogo com as sombras. Teoria e prática da doutrinação – Hermínio C. Miranda
7. Libertação, pelo Espírito André Luiz, Psicografia de Chico Xavier
8. Um roqueiro no além, pelo Espírito Zílio, Psicografia de Nelson Moraes

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

O DESTINO DO PROFESSOR RIVAIL


O DESTINO DO PROFESSOR RIVAIL
           Era primavera em Paris. Naquela tarde, o renomado Prof. Rivail fazia uma breve retrospectiva de sua vida. Sentado na poltrona, de olhos fechados, em cadenciado solilóquio, revia suas tantas experiências no campo das ciências e das experimentações.
           Desde a longínqua infância vivida na Rue Sale, 76 em Lyon, tinha por costume levar sua mente sempre ocupada com as razões e fórmulas estruturais do universo. As dimensões infinitas deslumbravam o menino. Gostava de ver o céu. As estrelas cintilantes eram convite constante para sonhos intergalácticos e, de todas as constelações, aquela de Órion lhe chamava particularmente a atenção.
          A imensidão do espaço e do tempo, o tempo no espaço e o espaço no seu tempo, faziam borbulhar no espírito do pequeno Hippolyté um misto de conjecturas e recordações indefinidas e inexplicáveis. As pradarias e florestas do Condado de Rhône não lhe eram estranhas. Soube que aquela região, em outros tempos, se chamara “Gália”. A velha Lyon era Lugdunum. Esses nomes, definitivamente, lhe eram muito familiares.
          Consultou seu relógio. Ainda havia tempo. A reunião estava marcada para as 20 horas. Fechou os olhos novamente e se viu a caminho da escola em Yverdum. As portas de um mundo fantástico de conhecimentos exequíveis lhe foram abertas pelo inesquecível e tão querido Professor Pestalozzi, cujas lições didáticas maravilhosas eram ofuscadas pelo amor que despendia às criaturas.
         Naquela escola suíça conheceu o que poderia ser real, útil, certo, preciso, relativo, orgânico e simpático. E foi assim que o jovem lionês se tornou também admirador do pensamento positivista de Auguste Comte.
          Seu caráter reto, sua lucidez e sua mente brilhante lhe renderam o posto de sub-mestre. Ajudava diretamente os professores nas tarefas de pesquisa, traduções e instruções aos alunos novatos.
          Os proveitosos oito anos em Yverdum transformaram Hippolyté Rivail em um Instituteur (mestre das escolas primárias e secundárias) e Chef d´Institution (diretor escolar).
Diplomado, veio viver em Paris.
          Mais de trinta anos se passaram. E ali ele estava, agora, olhando os telhados de ardósia do casario opaco, que se enquadrava na janela, envolto pelo entardecer.
          Por mais de trinta anos havia exercido o magistério como um sacerdócio. Buscava a natureza das coisas, estudava a complexidade do mundo e da vida, passava tudo pelo crivo da razão, elaborava um resumo prático e transmitia os mais variados temas em linguagem clara e concisa.
          Há mais de trinta anos estudava o magnetismo animal a partir das experiências de Mesmer e Puysegúr. Sabia ser possível a magnetização de qualquer objeto e fazê-lo se movimentar ativado por esse fenômeno.
          Sim. Isso era possível.
          Mas como explicar os fatos relatados há alguns meses pelo Sr. Carlotti? Entusiasmado, o amigo corso lhe afirmara que, em reuniões programadas para esse fim, mesas giravam e levitavam, e que além de se movimentarem respondiam às mais variadas indagações.
          Não. Isso não era possível.
          Houvera tratado o assunto que assolava toda Paris com respeito, mas sem nenhum interesse, visto que sua razão tratava o tema como sendo uma história fabulosa.
          Porém, há poucos dias, o Sr. Fortier lhe havia falado sobre o andamento daquelas reuniões. O caráter grave, frio e calmo do velho amigo lhe induziu a fazer uma análise daquele fenômeno, até então desconhecido.
          Não foi necessário nenhum esforço para persuadi-lo a participar de uma dessas experiências na casa da Sra. Plainemaison, onde a Sra. Roger seria magnetizada pelo Sr. Carlotti, e através da qual haveria a comunicação de um espírito.
          A honradez e a dignidade dos envolvidos em tais experimentações eram subsídio suficiente para a certeza de que aquilo estava acima de simples e inconsequentes brincadeiras de sarau.
          O endereço estava bem memorizado: Rue Grange-Batelière, 18.
          Era maio de 1855. O Prof. Rivail não estava apreensivo nem ansioso, mas tinha um leve pressentimento de que sua vida mudaria.
         Era um fim de tarde de primavera. Pela última vez consultou o relógio. Estava na hora. De pé, ajeitou a gravata. Na mão esquerda o chapéu. Puxou suavemente a porta e saiu caminhando, rumo certo, pelas ruas de Paris.

Sobre o Autor do artigo:
Paulo Henrique Bueno é membro da Rede Amigo Espírita
Engenheiro agrônomo
Orador e Trabalhador do Centro Espírita Allan Kardec de Carmo do Rio Claro - MG
Publicado por Amigo Espírita em 22 agosto 2013 às 17:06