quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Uma luz no Beco do Bom Pastor


Hoje recebi uma ligação de uma amiga, chamada Mônica. Ela queria saber se estaríamos realizando alguma ação social com crianças, haja vista hoje ser o dia delas, ao que respondi que já havíamos feito no último sábado lá no CECON com as crianças da evangelização. Então ela disse:
- Sabe o que é Jaime? Eu queria ajudar. Doar alguns presentes!
Então pensei um pouco e lembrei-me de uma família carente que mora próximo de nossas residências, alí no Beco do Bom Pastor.
- Mônica, há uma Família, vizinha de Aparecida (nossa  companheira de trabalho edificante), que tem algumas crianças, pelo menos umas seis! Vou falar com ela pra ver sexo e idade e te falo.
- Ótimo, vou aguardar teu retorno.
Assim nos despedimos e eu fui cuidar dos meus afazeres domésticos, depois fui à gráfica retirar os convites para a 2ª Semana Espírita de Juruti e em seguida, ao encontro de Aparecida. Como ela ficou em dúvida quanto ao número de crianças, por que alguns alternam entre o interior e a cidade, resolvi ir até a casinha deles verificar in loco.
Ao chegar, já fui recebido por 3 crianças. Chamei a avó, que cuida deles e perguntei nomes e idades, separando em duas listinhas de meninos e meninas. Eram oito crianças, entre 01 e 06 anos, netos de duas filhas diferentes.
Então fui ao encontro de Mônica para entregar a listinha a fim de que ela providenciasse os presentinhos. Quando tive a grata surpresa de conhecer sua mãe que havia vindo de Caicó-RN em visita à sua casa. Então começamos a comparar os climas das regiões Norte e Nordeste. Entre calores e ventos litorâneos, conversamos sobre pobreza e miséria. Ela então me contou sobre um trabalho assistencial realizado por ela, de visita a um presídio lá em sua terra natal. E disse-me algo que calou fundo em minha alma:
- Eles podem perder a liberdade, mas não devem perder a dignidade. Temos que ajuda-los, diminuindo seus sofrimentos.
Refleti bastante sobre isso e percebi que esse pensamento se aplica a qualquer situação que coloque o ser humano, o indivíduo, em uma condição sub-humana. A condição humana digna é um direito universal. Mas não é só obrigação dos governos ou da ONU. É obrigação moral e cristã de qualquer um que entre em contato com esse desvio social.
Despedi-me de Monica, de sua mãe e de seu namorado Rhaymá.
No final da tarde o telefone toca, era 16:00h. O display do celular indicava: Mônica. Devia estar tudo pronto! Atendi e combinamos de levar os presentes comprados por ela para as crianças. Encontramo-nos, eu, ela e Rhaymá e fomos em direção do nosso destino.
Ao chegarmos, bati no portão de madeira, uma das crianças que estava na casa ao lado veio correndo como um raio. Outras duas que estavam lá atrás vieram correndo abrir o portão. Elas sabiam que eu iria voltar e estavam na expectativa desse retorno.
Entramos e todas as crianças, acompanhadas das mães e da avó, se reuniram no puxadinho lateral da casa simples de madeira, sobre palafitas de uns 80cm. Fiz as apresentações, conversamos um pouco sobreas crianças e o casal amigo começou a distribuição dos presentes.
Essa casa é uma das residências às quais distribuímos sopão aos sábados, então perguntei, como sempre faço:
- Quem come todas as verduras da sopa?
Apenas duas responderam:
- Eeeeeu!!!
Então fiz o alerta:
- Tem que comer todas as verduras e legumes da sopa pra ficar forte!!!
Tentei brincar com a mais bebezinha de 1 ano, Vanessa, mas ela não quis e começou a chorar agarrando-se na avó. Então fui ensinar Janisson (que eu chamo de Mike Tyson por causa do rosto sisudo) de 2 anos a brincar com o caminhão que ganhou. Enquanto isso, Mônica se desdobrava em atenções com as outras crianças. Ficamos mais uns dez minutinhos vendo as crianças brincarem com os presentes que ganharam.
Ao final da visita, convidei todas as crianças a dar um abraço de agradecimento pelos presentes em “Tia Mônica”. Apesar de estarem um pouco sujas, por causa da terra preta do lugar, Mônica recebeu os abraços carinhosamente e, sem pudor nem reservas, ainda buscou abraços dos demais que não vieram até ela.
Nesta tarde, busquei ver os rostinhos das crianças iluminados pelo sorriso de alegria, mas o maior presente quem ganhou fui eu, ao ver a emoção da própria Mônica. Por que ao tentar fazer as crianças felizes, ela se tornou feliz e seu rosto se iluminou. E ela se sentiu bem. Por que fazer o bem faz bem!
Por Jaime Albuquerque

Juruti, 12 de outubro de 2016.

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