Último domingo do mês é dia de entrega de cestas básicas no CECON-Centro Espírita O Consolador de Juruti.
Famílias cadastradas recebem cestas mensalmente. Para as cestas excedentes, fruto de doações de amigos e simpatizantes da causa, realizamos uma entrevista de triagem no próprio CECON, depois encaminhamos alguns candidatos para seus lares e nos dirigimos em seguida a eles a fim de realizar entrevista complementar in loco.
Hoje, infelizmente, tivemos que dispensar três pessoas por falta de cestas suficientes.
Na entrevista de triagem, uma menina de 3 anos no colo da mãe, chorava um choro daqueles que respira soluçando e deságua num choro sentido. Então perguntei:
- Por que ela tá chorando?
- É que ela não come de manhã, e agora tá chorando. Respondeu a mãe com ar de preocupação no rosto, tentando dar água à criança, que rejeitava o copo.
Era fome!...
Na atividade de campo, como em outros dias, encontramos casas paupérrimas, de dois ambientes, onde o casal dorme no mesmo ambiente que os filhos (o que é desaconselhado pela psicologia infantil); cozinhas de enfeite, aonde só se vão pra tomar água, porque não dispõe de alimentos. Raras vezes encontramos apenas peixes.
Em certo endereço, entre a antena da TIM e o Estádio Pimpão, entre a tecnologia e a diversão, nos deparamos com uma casa de chão batido e a falta de brinquedos. Entre contrastes, encontramos nove filhos que vão dos 14 anos até à caçulinha de 2 anos, magrinha, estava dormindo numa cama de casal entre mil redes num só vão.
Nessa casa não há quartos e o banheiro é lá fora. Não há privacidade.
Nesse lar não há posse, nem de rede, nem de cama. Tudo é compartilhado.
Não há louça, nem pratinhos infantis, nem copos com desenhos de bichinhos. Apenas panelas amassadas.
Não há refeições regulares...
Cida, companheira no trabalho de assistência, que me acompanhava na visita, perguntou à nossa visitada:
- O que vão almoçar hoje?
E a resposta, já conhecida nossa por ouvi-la de outras bocas vazias, é sempre a mesma:
- Hoje não temos nada ainda!
As outras crianças brincam no terreiro com paus e rodas soltas, quiçá, pra despistar a fome.
Pra quem sente fome, todos os dias são iguais. Não nos compete questionar porque não vão à luta, porque muitas das vezes a luta é desigual.
E no final, sempre deixamos uma cesta básica simples de dez quilos. E vemos a curiosidade das crianças de saber o que tem nela e sorrisos despontarem dos seus rostos.
Deixamos o alimento material, que certamente vai acabar antes de dez dias, mas também deixamos gotas de esperança, que de gota em gota, vão alimentar a espera da próxima alegria.
Certamente esse domingo foi um dia diferente para eles!
Para nós outros foi transformador. E nós sairemos dele melhor do que entramos!
Por Jaime Albuquerque
Juruti, 28 de agosto de 2016.
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